quarta-feira, 20 de julho de 2016

O Meu Pé de Laranja Lima

laranja_featuredUm romance juvenil autobiográfico do aclamado autor brasileiro José Mauro de Vasconcelos. É  uma obra a descobrir ou a redescobrir, uma leitura gratificante e comovente tanto para crianças como para adultos.Na verdade, “O Meu Pé de Laranja Lima” é uma história sobre a entrada na vida adulta, a perda da inocência e fim da infância. Porém, em vez de nos depararmos com um adolescente,  a personagem que faz esta transição tem apenas cinco anos. Zezé é uma criança precoce e extremamente sensível – e todos sabem que a sensibilidade é frequentemente madrasta –, que se vê obrigada a amadurecer antes de tempo pela pobreza e pela violência física e psicológica que esta tantas vezes implica.O livro tanto nos faz sorrir como nos arranca uma lágrima, entre as travessuras deliciosas do protagonista e a realidade opressiva de uma família numerosa e pobre, do desemprego, da frustração e desespero dos adultos, da mão pesada de miúdos e graúdos. 
Os momentos de ternura, inocência e afecto são contrabalançados pela frieza da realidade social em que Zezé existe, por tudo o que não lhe permite ser apenas uma criança de cinco anos, sem preocupações além da brincadeira e da escola. Os problemas de Zezé são os problemas dos adultos e, apesar de tudo, a sua imaginação vai sobrevivendo, a capacidade de se deslumbrar e de falar com as árvores, de ser amigo de morcegos e de se perder no imaginário cinematográfico dos westerns persistem.É, de facto, uma obra maior da literatura juvenil, uma pérola agridoce como a própria infância, mas com uma dureza que resulta numa aprendizagem para o jovem leitor, que lhe incute empatia e consciência social ao mesmo tempo que o faz avançar para um nível de leitura mais maduro.

O percurso de Zezé é, como já foi dito, o caminho para a entrada na vida adulta. Ao mesmo tempo que descobre afectos e amizades, toma consciência da brutalidade da vida demasiado cedo, atinge uma maturidade que não devia ter aos cinco anos e acaba por perder a inocência e compreender as engrenagens frias do mundo.A escrita nunca perde o tom de encanto, a beleza nunca se esvai, mas fica um peso no coração, o peso que faz de nós adultos, quando a leveza, a despreocupação e a magia da infância são substituídas por uma noção mais acutilante da realidade, da dor e da perda. O fim da infância será sempre traumático, podemos argumentar, mas se é para ler um retrato desta perda maior por que todos passamos, que seja pelos olhos e pela pena de José Mauro de Vasconcelos, que o traça com uma sensibilidade e mestria maiores.Trata-se de um clássico para crianças e para adultos, um livro a descobrir com encanto ou a reler com nostalgia. Uma história para redescobrir a criança que ainda temos escondida num canto do nosso coração, a jogar à macaca e a roubar maçãs do quintal da vizinha, um livro para o público mais jovem se identificar e compreender as diferentes infâncias que diferentes crianças podem ter. José Mauro de Vasconcelos acertou na mouche, e a nós cabe o prazer imenso de o ler e de o dar a conhecer aos mais pequenos.

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